terça-feira, 14 de junho de 2011

Holocausto - os Horrores da Guerra

Por: Isadora Lopes

Nas escrituras sagradas da religião judaica, ensina-se que nada vale mais que a vida humana - tanto que, dos 613 mandamentos do judaísmo, 609 podem ser violados quando se trata de evitar um óbito. A explicação está no Talmude, que lembra que todas as pessoas descendem de um só indivíduo; portanto, salvar uma vida equivale a redimir um mundo inteiro, e ceifar propositalmente uma vida, em qualquer circunstância e sob qualquer justificativa, é o mesmo que dizimar a humanidade inteira.

            Somente no fim da guerra um mundo já atônito pela agonia de cinco anos de guerra ouviu relatos do massacre. Não se atentou contra a vida de um indivíduo; buscou-se varrer um povo inteiro da face da terra. Os outros povos, entretanto, não impediram a barbárie; alguns, ensandecidos pela brutalidade impiedosa da guerra, até sancionaram a matança. Como sustentar que ainda somos civilizados se, apesar dos desesperados alertas de um povo com 4.000 anos de história, uma corja de assassinos com pouco mais de uma década de poder conseguiu materializar suas ambições mais insanas, uma matança tão cruel e ao mesmo tempo tão fria.

            Testemunhos das atividades dos nazistas nos países ocupados eram cada vez mais freqüentes. Em 27 de janeiro de 1945, contudo, encontrou-se a prova inconteste em Oswiecim, sombrio vilarejo no sul da Polônia. Por volta do meio-dia, quatro jovens soldados de um batalhão soviético caminhavam por uma estrada que conduzia a um complexo de galpões e cabanas. Por meio do arame farpado, avistaram ao longe esqueletos vivos errando lentamente de lado a lado. Ponteando o terreno forrado de neve, viram pilhas indistinguíveis de coloração acinzentada. Estavam às portas de em Auschwitz-Birkenau, o campo da morte, o maior centro de extermínio nazista. Apenas algumas centenas de prisioneiros ainda habitavam o amplo complexo, já abandonado pelos alemães.

            Os alemães montaram em Auschwitz-Birkenau uma verdadeira fábrica da morte, em que seres humanos eram abatidos em escala industrial. Ao contrário dos outros massacres cometidos na História, a matança não ocorria no campo de batalha, na fúria da conquista de terras inimigas ou sob o fanatismo das investidas religiosas. A fria máquina de extermínio nazista tinha planejamento, organização, precisão e eficácia. Os germânicos arianos, a "raça superior" que salvaria o mundo, eliminavam e incineravam indivíduos indesejados como quem ateia fogo no lixo para se eximir do trabalho de despejá-lo.
            De acordo com testemunhos dos prisioneiros resgatados, sobreviver no abatedouro polonês era a possibilidade mais rara. Logo de cara, uma porção significativa das vítimas trazidas através da ferrovia era condenada à morte. Nesta primeira triagem, separava-se quem era capaz de trabalhar dos que eram frágeis demais para produzir. Para o segundo grupo, era o fim. Tropas nazistas conduziam o contingente - na maioria mulheres, crianças e idosos - para uma ala mais afastada. Os carrascos anunciavam: era hora de tomar. Espremidos em câmaras seladas, sem roupas, no escuro, eram fatalmente sufocados por uma nuvem letal de gás Zyklon B. Em instantes, todos estavam mortos. No passo seguinte, gigantescos crematórios vizinhos às câmaras engoliam os cadáveres, cuspindo fumaça negra de forma quase ininterrupta.

            Quem passava na triagem inicial era colocado em galpões e campos de trabalho para intermináveis turnos de duríssimas tarefas. Sob a ilusão da reconquista da liberdade, cumpriam suas funções e tornavam-se engrenagens da máquina bélica alemã. Morrer na linha de produção ou na rotina de sadismo dos guardas alemães era, para quase todos, só questão de tempo.

            Quando os soviéticos se aproximaram, os alemães não só fugiram como também tentaram eliminar todos os indícios do massacre, explodindo os crematórios e incendiando os registros que detalhavam a organização do massacre. Deixaram para trás, no entanto, documentos e evidências que ajudam a esclarecer o que se passava ali. Já é possível saber, por exemplo, quais grupos "indesejados" eram eliminados: eslavos, ciganos, deficientes físicos e mentais, testemunhas de Jeová, dissidentes políticos, homens homossexuais. Todos eram identificados por triângulos coloridos costurados às roupas. O triângulo rosa identificava um homossexual; o vermelho, um opositor político. O grupo majoritário, porém, não era nenhum desses. Identificado por dois triângulos, compondo uma estrela de Davi de cor amarela, ele foi sem dúvida o alvo prioritário da fúria dos fornos nazistas: os judeus.

            A comunidade judaica européia foi aniquilada. Algumas dezenas de milhares ainda conseguiram fugir para a Palestina antes da adoção da "solução final", no fim de 1941. Mas quem caiu nas garras de Hitler dificilmente escapou. Pior: Auschwitz-Birkenau é apenas uma das fábricas da morte. Sabe-se da existência de pelo menos mais dez campos, incluindo os de Sobibór, Treblinka, Ravensbruck, Buchenwald e Dachau - os três últimos, no próprio território alemão.

            Quando relatam as monstruosidades presenciadas nos campos da morte, os sobreviventes geralmente se recordam primeiro das crianças. Falam dos bebês arremessados vivos nos crematórios; dos moribundos corroídos pelas doenças injetadas pelo médico de Auschwitz, doutor Josef Mengele; dos concursos de arremessos de crianças judias entre os guardas da SS. Também falam das mulheres; as mais jovens, estupradas repetidamente antes de mortas, seus corpos usados como tochas humanas em fogueiras de mortos. Quando se pergunta sobre as pilhas de corpos, as testemunhas lembram-se de ratazanas mordiscando os cadáveres; de prisioneiros ainda vivos lutando para se expelir de uma montanha de mortos; de mulheres grávidas abortando fetos. E do cheiro, dizem todos.

 Crueldade impensável: crianças judias em foto achada no arquivo de Auschwitz-Birkenau

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