quarta-feira, 15 de junho de 2011

Interpretação do poema ''Carta de Stalingrado'' de Carlos Drummond de Andrade

Por : Thais Macêdo 


Operários, camponeses, intelectuais, artistas e todos os que lutaram contra a opressão prestaram e prestam homenagens ao grande exemplo de Stalingrado, o poeta Carlos Drummond de Andrade tambem , escreveu sua indignação e tristeza melancólica com o mundo, com a violência e com os horrores que o mundo estava vivendo durante a  Segunda Guerra Mundial.

A Batalha de Stalingrado  foi uma operação militar conduzida pelos alemães e seus aliados contra as forças russas pela posse da cidade de Stalingrado,foi tambem ,talvez, o maior e mais sangrento confronto militar da história, marcou o ponto de viragem dos aliados na 2ª Guerra Mundial, o início do fim do 3º Reich de Adolf Hitler.

O poema foi escrito pelo poeta e cronista brasileiro Carlos Drummond de Andrade ainda em 1943. Foi publicada no ano de 1945 em "A Rosa do Povo",um livro de poesias escrito pelo próprio.

Carta a Stalingrado                                                                                                                                                
Stalingrado...
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade dilata os seus peitos,
Stalingrado, seus peitos que estalam e caem,
enquanto outros, vingadores, se elevam.
A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho.
Os telegramas cantam um mundo novo que nós,
na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
na tua fria vontade de resistir.
Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistem.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto)
estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções
e nossos confusos pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada e ao coração que duvida.
Stalingrado, miserável monte de escombros,
entretanto resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
Débeis em face do teu pavoroso poder,
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos
e rios não profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas,
entregues sem luta, aprendem contigo o gesto de fogo.
Também elas podem esperar.
Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
Não há mais livros para ler nem teatros funcionando
nem trabalho nas fábricas,
todos morreram, estropiaram-se,
os últimos defendem pedaços negros de parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado!
A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas
onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate, e vence.
As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades,
que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.


 
   

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